Em 2ª edição, foi inicialmente publicado em 2000 para comemorar os 500 anos da viagem “descobridora” de Pedro Álvares Cabral, que deu origem ao Brasil.
Apresentado no Centro Nacional de Cultura pelo saudoso Embaixador Dário Moreira de Castro Alves, volta aqui a ser apresentado, por vontade do autor, desta vez por Renato Epifânio, Presidente do MIL Movimento Internacional Lusófono).
O romance ficciona a partida da armada de Belém, a viagem transatlântica, a chegada a terras de Vera Cruz e os primeiros tempos de colonização do Brasil.
O leitor é conduzido pelos olhos e pela saga de um filósofo aventureiro, humanista que acreditava num império espiritual, que tem traços comuns com o Professor Agostinho da Silva. É ele a semente física e espiritual de que vai nascer uma nação multirracial e de dimensões continentais, que teve a sua origem na Bahia, confluência sagrada de originários da terra, de portugueses e de africanos.
Quando falamos da obra, já
extensa, de Jorge Chichorro Rodrigues, começamos sempre pela sua magnífica
colecção “Mestres da Língua Portuguesa”, cujos mais recentes números foram
editados pelo MIL (Movimento Internacional Lusófono), em que sucessivamente se
abordaram os seguintes autores: Cecília
Meireles, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Luís de Camões, José Craveirinha,
Padre António Vieira, Eugénio Tavares, Sophia de Mello Breyner Andresen,
Almeida Garrett, Cesário Verde, Bocage, Pêro Vaz de Caminha, Florbela Espanca,
Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, José de Alencar, José Saramago,
Alda Lara, Agostinho da Silva, António Aleixo, Gil Vicente, D. Dinis, Fernando
Sylvan, Fernão Lopes, Fernão Mendes Pinto, Antero de Quental, Camilo Castelo
Branco, Francisco José Tenreiro, Carolina Maria de Jesus, Jorge Amado e Teixeira
de Pascoaes. Enfim: uma plêiade de autores bem representativos da Lusofonia,
por mais que, como sempre acontece neste tipo de selecções, pudessem ter sido
outras as escolhas.
Para além desta sua magnífica
colecção, há, porém, outras obras – como é o caso, mais recente, da reedição do
seu livro “O Princípio do Mundo” (Ed. Infinita, 2024), que tivemos o privilégio
de apresentar no Centro Nacional de Cultura, após o saudoso embaixador Dário
Castro Alves ter apresentado, no mesmo local, no início do século, a primeira
edição. É, também esta, uma obra muito bem conseguida e, no actual contexto de
“contestação woke” da nossa história,
uma obra particularmente pertinente. Desde logo porque reconstitui, sem
qualquer complexo, a descoberta do Brasil. Na verdade, não a sua descoberta,
mas a sua criação – como nós próprios já tivemos a oportunidade de escrever:
“De facto, Portugal não descobriu o Brasil. Qualquer país – para mais, um país
imenso como o Brasil – é muito mais do que um território. É um território habitado
por um povo que reflecte, na sua vivência desse território, uma língua, uma
cultura, uma civilização. O que só de forma muito incipiente acontecia quando
Pedro Álvares Cabral fez a sua viagem.”.
Como então acrescentámos:
“Podemos pois assim dizer que Portugal não descobriu o Brasil – pela simples
mas suficiente razão de que o Brasil não existia antes dos portugueses lá terem
chegado. Muito mais do que isso, o que devemos dizer é que Portugal criou o
Brasil – no plano linguístico, cultural e civilizacional –, naturalmente que
com o contributo das comunidades indígenas (que, por si só, não formavam um
povo, tal a sua dispersão geográfica e dialectal) e de todas as outras
comunidades que, século após século, fizeram do Brasil o seu país.”. Eis, em
suma, todo o processo que Jorge Chichorro Rodrigues reconstitui,
literariamente, nesta sua obra: o princípio do Brasil, o princípio do mundo –
ou, mais exactamente, o princípio da consciência humana do que é o nosso mundo
–, em última instância, o princípio do mundo a haver, como Agostinho da Silva
anteviu no Brasil e que, nesta obra, surge pelo nome de Antão da Silva. É ele,
sob esse outro nome, o personagem principal da narrativa, aquele que anteviu no
Brasil – por extensão, no espaço lusófono, na “pátria ecuménica da nossa
língua” –, o princípio do mundo a haver, como nós próprios assinalámos na
reedição, igualmente recente, da nossa obra “Visões de Agostinho da Silva”
(Zéfiro, 2024).