A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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segunda-feira, 15 de abril de 2024

De Carlos Aurélio: "O bom combate: textos católicos de hoje fora de moda"

 

Quando se entra numa casa convém passar pela porta, de assalto é violação. No caso presente este prólogo “o que se diz ou escreve antes” – é portada aberta à diversidade do que se escreveu, mostrando a arquitectura coerente na estrutura da casa. A coerência é simples: o quem antecipa o como, ou seja, quem aqui escreve, escreve como católico numa pátria que está a deixar de o ser. De o ser, como país e mais ainda como pátria católica, numa travessia em terra de ninguém entre trincheiras de agressão e miragens de gente febril. Isto que parece mau pode ser bom e só será péssimo se se fugir da luta, se por medo dos homens não se guardar o temor a Deus, dom do Espírito Santo e berço da Sabedoria. Diz São Paulo: «Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.» Não se admire o leitor se estes textos pelo «bom combate» e editados nos últimos dez anos lhe parecerem fora de moda. São-no de facto, a moda engana.    

Quem escreve para quem escreve? Fiz-me esta pergunta ao recolher os textos para este livro, agora coligidos depois de editados em alguns semanários e revistas da imprensa portuguesa. Dir-se-á, resposta óbvia, que se escreve para quem for ler. Todavia não basta o evidente, interessa saber se quem escreve, quando escreve, tem um leitor prefigurado, se há um rosto do outro lado do papel, se o monólogo exige diálogo imaginado. Devo dizer que sim, estes textos olham leitores amigos e outros que ainda o não são, sendo que poderão vir a sê-lo, ou seja, almas disponíveis para se conversar imediatamente acima da poeira dos dias. Mais: também escrevi frente à sinceridade no cara-a-cara possível e especular da verdade, assim como entravam as coisas na minha infância, de rompante e sem licença. Não por acaso Jesus chama a si os infantes os que ainda não falam quando as palavras aparecem depois da realidade. A linguagem e as palavras vivem num paradoxo: moldam o que somos, mas sem elas nem perceberíamos que éramos moldados.

Na ampla profundidade do mistério de cada pessoa convivem três ângulos que se conjugam em graus diferentes: somos um pouco do que queremos ou imaginamos ser, somos muito o que os verdadeiros amigos vêem em nossos defeitos e virtudes e, acima de tudo, somos absolutamente como Deus nos conhece, mistério que por sê-lo só a eternidade desvendará. Já se vê que me é decisiva a perspectiva de Jesus Cristo na resposta à inquirição farisaica sobre o sentido da Lei religiosa, ou seja, o amor que liga terra e céus, homens e Deus: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» (Lc 10,27).

Escrevi religiosamente, ou seja, propondo explicitamente o ponto de vista religioso, ora buscando, como diz Aristóteles, os que escolhem e partilham as mesmas coisas que nós, e esses são os verdadeiros amigos, ora levando-as a outros para fazer amigos em sinal de digna amizade, outra nobre expressão do amor. Resumindo, o intento, conseguido ou frustrado, de saber para quem escrevi implicando nisso o quê é amor a Deus para melhor amar os amigos. Escrevi, pois, para amigos feitos e outros a fazer, nisso expressando a causa e a meta dessa amizade. Falta responder ao modo como fiz.

O modo adveio da perspectiva da qual escrevi ao longo de uma década, portada de acesso às salas ou textos de aparência diversa. Todos são de substância religiosa, sendo que alteram pelas categorias acidentais adaptadas naturalmente às circunstâncias. Tanto podem visar alterações climáticas ou a pandemia covid, o estado em que decai o espírito pátrio ou se alcança uma geografia metafísica da Europa cristã; outras vezes, sondam as súplicas do Pai-Nosso, buscando nunca deixar Deus ausente da vida porque, nisto creio, sem Ele nem humanos somos: quando o sofrimento nos toca e, um por um a todos toca, fiquemos atentos à escuta, Ele dará sinal porque é na cruz que se nos revela, assim resplandeceu no Calvário antes da Ressurreição. Depois, há que ser gratos, eis a nossa maior humanidade. Daí, só pode advir alegria pelo “bom combate” capaz de guardar a fé, não em polémicas entrincheiradas em causas de impossível e néscia imposição, mas apenas caminhantes, fazendo vida no caminho: Deus é a Vida, nele vivemos. A fé é firme espera nesse amor de onde viemos e ao qual voltaremos, anel inalienável de um Deus que nunca abandona. 

O conjunto dos textos está dividido em quatro capítulos: 1) Ser Cristão no Mundo; 2) Portugal e o Cristianismo; 3) Pai-Nosso; 4) Europa Cristã. A proposta de leitura é um itinerário possível de diálogo entre quem escreve e os amigos de hoje, outros vindouros, pois o tempo não é obstáculo de percurso. «Não é bom que o homem esteja só», seja em família ou em comunidade consagrada, preceito divino que cada vez mais deveria importar à pólis saudável, à civilidade que vemos afundar-se em similar queda do mundo antigo e clássico. A religião não pode ficar nos arredores da Cidade, Deus não pode ficar arredio na solidão do homem. Aí sim, reside a mais dramática periferia.   

Os primeiros dois capítulos deste livro 1) Ser Cristão no Mundo; 2) Portugal e o Cristianismo visam a inserção religiosa dos homens entre si, ou seja, aquilo que os pode religar sob a perspectiva cristã que, em Portugal, é ainda a católica, enquanto que os dois restantes, não por acaso, emergem do Pai-Nosso, oração que desde o amor a Deus permite e aprofunda amar o próximo. O capítulo final, Europa Cristã, é a revisitação de um livro anterior Mapa Metafísico da Europa, edição de 2003 – que aqui se acentua e se determina em perspectiva então não completamente evidente, ou seja, o propósito católico e, portanto, universalista de compreender o destino espiritual da Europa como geneticamente cristão. O texto final, mais longo, é o único não editado, versa sobre um tema que a Igreja Católica debate há mais de dois séculos e muitos, talvez por critério admissível desejam adiar, outros por astúcia querem ocultar, aqui tomado como necessário, quiçá urgente, até pelo que diz respeito a Portugal: Um caminho de devoção portuguesa: da Imaculada Conceição à Corredenção.

Eis a portada aberta para o que se escreveu, para quem e de que modo o fez. É apenas um livro: via de livre amizade e comunhão entre espíritos próximos ainda que longínquos no espaço e no tempo, um diálogo presente ou para futuro, na senda quem me dera! – do filósofo Álvaro Ribeiro o qual, porventura tão desapontado quanto esperançoso, dizia «escrever para longe». É um livro, agora perto, à espera da alma atenta de um amigo. Só falta entrar. Benvindo!


- "O bom combate: textos católicos de hoje fora de moda", Lisboa, MIL/ DG Edições, 2023, 276 pp.

ISBN: 978-989-35021-3-6



Para encomendar: info@movimentolusofono.org