A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 13 de outubro de 2015

Na NOVA ÁGUIA 16 | Entrevista a Eduardo Lourenço, por Luís de Barreiro Tavares


L.B.T. : O Pascoaes diz qualquer coisa crítica relativamente à questão poética no Pessoa... 

E.L. : Uma das primeiras coisas que me aconteceram foi ficar muito indignado com uma frase numa entrevista ao Pascoaes, onde a dada altura lhe perguntaram: "o que é que pensa do poeta Fernando Pessoa?" E ele respondeu: "mas ele não é poeta." Não é poeta? Eu fiquei muito indignadíssimo. Mas sei o que ele queria dizer com aquilo.

L.B.T. : O professor estava lá?

E.L. : Não, li num texto. Acho que foi n’O Primeiro de Janeiro[1]. Não sei se já o tinha conhecido naquela altura. Porque uma das coisas mais bonitas que aconteceram em Coimbra quando lá estive foi uma homenagem que nós fizemos ao Teixeira de Pascoaes. E eu pensava que ele já tinha morrido há muito tempo, se não, não mandavam livros, não é [risos]. Então, nós estudantes, fizemos uma festa muito bonita. Então ele apareceu e eu pensava que já tinha morrido há muito tempo [de novo risos]. Eu tinha lido uns versos dele quando tinha, para aí, catorze anos, nuns papéis arrancados numa revista qualquer. Era um poema de um livro famoso chamado As Sombras... "Ah se não fosse a névoa (...) // Eu não era o que sou" [do poema "Canção duma sombra" do livro As Sombras de 1907].

Há muitas coisas que são de dois poetas imensos, ele e o Pessoa. Mas dois poetas completamente diferentes. A poética do Pascoaes é uma poética romântica e mesmo hiper-romântica. A inspiração não é ele, não é? E o Fernando Pessoa trocou isso por miúdos. Faz uma análise sobre essa própria inspiração. E ele [Pascoaes] não, ele considera que tudo o que não sai da inspiração no sentido clássico do termo - propriamente do termo - não é propriamente poesia, é outra coisa. Logo que a inteligência começa a controlar isso, a coisa que é dada pelos deuses, pela musa, etc., já não é realmente a poesia. E é isso que ele queria dizer. Mas eu naquela altura não li isso assim [relativamente ao seu comentário sobre Pessoa]: Mas afinal o que é que o homem quer dizer? Fiquei-lhe com uma raiva [risos]. Só mais tarde é que eu recuperei para mim o Pascoaes, que considero um dos maiores poetas portugueses de sempre.

(excerto)


[1] “O que nós vemos das cousas são as cousas”, verso do poema XXIV de O Guardador de Rebanhos (Alberto Caeiro). Este verso citado por Pascoaes na sua última entrevista teve o seguinte comentário: “veja o poema (o poema?!) que começa ‘O que nós vemos das coisas são as coisas’… isto não é poesia nem filosofia, nem nada.” (n’ O Primeiro de Janeiro, 25 de Maio de 1950, republicada in Teixeira de Pascoaes, Ensaios de Exegese Literária e vária escrita: opúsculos e dispersos, Lisboa, Assírio & Alvim, 2004, pp. 249-253). Contextualizando e analisando várias perspectivas, favoráveis e desfavoráveis, de Pascoaes sobre Pessoa, leia-se, por exemplo, o artigo de Renato Epifânio intitulado «Entre “Orpheu” e a “Águia”, entre Fernando Pessoa e Teixeira de Pascoaes» (Nova Águia 15). Também: Luís Tavares, “Escrever, descrever e sensações em Álvaro de Campos”, in Revista Nova Águia, nº14, 2º semestre, Zéfiro, 2014, pp. 152-159.