Oferece-se este estranho livro ao leitor cuja alma é elevada à proximidade da ideia de heroísmo. Mas o heroísmo de que aqui se trata desaparecia já a olhos vistos da cena europeia ao tempo de Vico. Daí o apelo do napolitano, aliás em ciclo análogo ao de Platão que, como recordava, fez da Academia escola de heróis. Contra a determinação aparente da época. Quando, um século depois de Vico, falou Thomas Carlyle no culto dos heróis, dava-o praticamente por extinto, projectando a esperança num futuro em que os homens voltassem a ser sinceros. Pois a insinceridade é a marca do anti-heroísmo. Era 1840. De lá para cá institucionalizou-se a vulgarização de todas as coisas, a ponto da invulgaridade corresponder ao exacerbamento de uma qualquer característica vulgar. Nunca a alma heróica se faz tão significativa como quando a insignificância, para não dizer a ausência de sentido, se fez regra geral. Num certo sentido, porém, permanece o mais importante intocado, precisamente porque é intocável. A isto mesmo se dedicam, em primeiro lugar, os heróis tal como vêm aqui pensados.Para além dos factores misteriosos, há vários métodos para activar a alma heróica – a coragem inteligente – e o estudo é, concertadamente, um deles. Donde, de resto, parte significativa da estranheza deste pobre livro. Reúne ele textos, cujas circunstâncias se explica em notas, segundo um ritmo correspondente à razão dos estudos. Para o efeito, convidam-se ao diálogo pensadores que não foram alheios à neociência. No meio disso faz-se o levantamento de algumas linhas quase invisíveis do pensamento em língua portuguesa, procedendo ao seu encordoamento.
A ciência heróica não é para os homens de mente discursiva, como é sabido na tradição heróica da filosofia portuguesa considerativa da intuição intelectual e da pura acção.
Nos cem anos da Renascença Portuguesa, deseja-se que estas páginas sirvam, entretanto, a Renascença Luso-Brasileira.
Cada um saberá o que fazer.
Está a intuição imaginativa para a filosofia poética da razão atlântica como a onda está para o mar.
Contemplando aventurosamente o Universo, o herói faz a ponte entre a origem e a novidade de todos os acontecimentos, projectando no mundo uma luz sobrenatural que infinitamente o ultrapassa.
Rodrigo Sobral Cunha