A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

"A Vocação Histórica de Portugal", de Miguel Real


Na esteira de mais de uma dúzia de obras publicadas nesta última década sobre Portugal e a sua tradição cultural e filosófica, ora em geral ora sobre alguns autores em particular , série iniciada, auspiciosamente, com o premiado ensaio Portugal. Ser e Representação, de 1995, ofereceu-nos, Miguel Real, mais uma obra com o sugestivo título de A Vocação Histórica de Portugal. Desde logo pelo título mas, sobretudo, pelo conteúdo, esta obra retoma uma outra que, também aqui, nas páginas da NOVA ÁGUIA, no seu primeiro número, destacámos . Referimo-nos à obra A Morte de Portugal, de 2007. Nesta, diagnosticava o autor “os quatro complexos culturais por que Portugal se foi concebendo a si próprio ao longo de 800 anos de História”. O primeiro designa-o como o “complexo viriatino” – por ele se denota a alegada “origem exemplar de Portugal” . O segundo é o “complexo vieirino” – por ele se denota o alegado estatuto de Portugal como “nação superior” . Contrapolar a este é o terceiro complexo, que designa como o “complexo pombalino” – por ele, ao invés, se denota o alegado estatuto de Portugal como “nação inferior” . Resultante da contrapolaridade destes dois últimos, mas ainda em referência ao primeiro, indica o autor um quarto, que designa como o “complexo canibalista” . Por este, “não temos feito história da cultura com o pensamento, mas com o sangue, sustentando-nos antropofagicamente do corpo do adversário”. Daí, enfim, o impiedoso retrato que Miguel Real fez, nessa obra, do Portugal de hoje: “O Portugal desenhado pelos quatro complexos acima enunciados encontra-se moribundo, submerso pela avalanche de costumes liberais e americanos (…).”; “Mistura de complexo pombalino com um arreigado individualismo americano, o projecto político português caracteriza-se hoje, nos comecinhos do século XXI, pela exaltação unidimensional do homem técnico, o homem-eficiente, o homem-contabilista, o homem-robótico, desprovido de consciência histórica global (…).”; “É um novo Portugal que está nascendo, sem sublimidade, sem espiritualidade, sem projecto superior às suas forças e à sua dimensão (…), o Portugal dos pequeninos (…). ”. Em suma, somos hoje, como conclui, uma “canina imitação do pior da Europa”. 
 
Nesta obra, A Vocação Histórica de Portugal, esse diagnóstico não se alterou propriamente. Mas, se na obra A Morte de Portugal esse era ou pelo menos parecia ser um diagnóstico sem esperança, aqui, ao invés, há um Horizonte que se abre, um “novo espaço histórico a criar” – como escreve Miguel Real, logo na apresentação da obra: “Assim, contra a tese de Jorge Borges de Macedo (…), considera-se não existir um destino histórico para Portugal, antes uma vocação histórica segundo a vontade das suas elites e a tendência conjuntural europeia e internacional. A vocação histórica de Portugal, hoje, à entrada do século XXI, é, incontestavelmente, a de cruzar a nova experiência europeia com a antiga provação imperial, gerando um novo e exemplar espaço político internacional de igualdade e prosperidade – a Lusofonia. Este novo espaço é, hoje, para o futuro de Portugal, mais importante do que o espaço europeu”. Eis, em suma, a tese que Miguel Real desenvolve ao longo de três capítulos. No primeiro deles, intitulado “O Espírito da Europa”, faz, Miguel Real, um tão grande quanto justo elogio ao espírito europeu, o que em nada colide com a posição de princípio pró-lusófona. É, de resto, um elogio pertinente, tanto mais porque é contra-corrente, podendo até ser, pelo menos em parte, ser visto como “politicamente incorrecto”. Com efeito, Miguel Real defende, expressamente, que “outro continente não existe com tão grandiloquente e realizador passado” – por isso, “deve a Europa respeitar e orgulhar-se dos seus feitos passados”. Como concretiza, “nenhum outro continente teve Platão e Galileu, Aristóteles e Copérnico, Leibniz e Newton, Kant e Einstein”. E daí “a grande, grande diferença entre a Europa e os restantes continentes”: “a Europa é o continente da cultura”, “o continente que transformou o animal homem no homem humano”. Como escreveu ainda Miguel Real, a fechar o ensaio inicial do primeiro capítulo: “nunca a humanidade do homem tão alto se elevou quanto na Europa, o genuíno e autêntico continente da única forma mentis que abarca a totalidade da humanidade”. Isso deve-se, desde logo, como refere a abrir o ensaio seguinte “O decálogo civilizacional da Europa”, a quatro primados: “o primado da Cidade (Polis) sobre a Horda e a Tribo”, “o primado do Direito (Jus) sobre a Tradição”, “o primado da Ética (Ethos) sobre o Interesse” e, finalmente, “o primado da Razão sobre o Mito e a Magia”. Por via desses quatro primados e de outros factores – como, em particular, “a separação entre o Estado e a Religião”, “a criação do Sistema Democrático” e a “industrialização do mundo” –, conclui Miguel Real: “Nenhum outro continente pode apresentar tão alto sistema de valores e realizações operados para o bem e o progresso humanístico da humanidade no seu conjunto. Os valores culturais asiáticos e árabes, centrados na religião, e africanos e sul-americanos, centrados no tribalismo, estatuem-se como menores (e, até, por vezes insignificantes) para a totalidade do mundo se comparados com a criação política, filosófica, religiosa, estética, científica, social e económica europeia.” Contudo, como defende no ensaio seguinte, com o título de “A Decadência da Europa”: “pela primeira vez em três mil anos, a Europa habita o panteão dos povos e territórios que não fazem História, antes a contemplam, vendo-a passar ao longe, a Oeste e a Este”; “tecnologicamente (que é o actual padrão de medida do progresso), a Europa parou na II Guerra Mundial”, passando a ser “internamente vista como um apêndice dos Estados Unidos da América”. Por tudo isso, como conclui Miguel Real: “o europeu de hoje é um cidadão conformista, acrítico, por vezes mesmo acéfalo, pasto de programas imbecis de televisão, de revistas fúteis, de campeonatos nacionalistas de futebol, adorador dos mais medíocres bezerros de ouro (políticos, futebolistas…), um cidadão movido pelo interesse, desprovido de sonho e transcendência. A Europa é hoje um continente cego guiado por políticos cegos./ Assim, nenhuma forma de vida é criticada ou asperamente excluída da cidade. Na Europa, hoje, o espírito nómada da aventura e da viagem tornou-se um modismo experimental, uma ânsia da novidade, do exótico, do insólito, do selvagem, do fantástico, num imoral cruzamento entre pornografia e misticismo, como a arte e, dentro desta, a literatura de mercado bem revela.”. Não obstante este diagnóstico, que o próprio assume como “muito cruel”, Miguel Real defende no ensaio que se segue e que encerra o primeiro capítulo, intitulado “Esperança na ressurreição da Europa”, que, precisamente, “a esperança na possibilidade de uma futura ressurreição europeia não deve ser abandonada”. E aqui assumimos a divergência maior relativamente a Miguel Real. Ao contrário dele, nós não temos a menor “esperança na ressurreição da Europa”. Falamos, em particular, da União Europeia, enquanto alegada consagração política deste continente. Com efeito, ainda que hoje isso pareça fazer parte de uma história hoje já muito distante, o grande “cimento” da construção da União Europeia foi a ameaça que o bloco soviético, que, como sabemos, se estendeu a toda a Europa de Leste, constituiu, durante quase meio século, para a Europa ocidental. Isso e a posição subalterna que a Alemanha aceitou, como expiação da sua culpa pela II Guerra Mundial – a Alemanha (falamos, obviamente, antes da reunificação, da Alemanha ocidental) não poderia afirmar-se politicamente, apenas financiar todo o projecto político da construção europeia. E deveria até mostrar entusiasmo por isso. Com o fim da ameaça soviética e com a reunificação alemã, era inevitável que também essa derradeira máscara caísse. A Alemanha reunificada voltou a ser, naturalmente, um país como os outros – não mais do que os outros, mas também não menos. Para mais, acedeu ao poder uma geração que já não carregava sobre os seus ombros esse peso histórico da “culpa alemã”. O que a Alemanha tinha a pagar, já o havia feito. Agora, defenderia simplesmente os seus interesses, tal como todos os outros países europeus. Quem a poderia impedir? E eis como inevitavelmente se encerrou o último acto da farsa da “solidariedade europeia”. Chegados aqui, e concordado de novo com Miguel Real: “existe hoje, em Portugal, uma alternativa à Europa sem que desta nos tenhamos necessariamente de desvincular, uma alternativa de futuro aos actuais valores europeus (que, verdadeiramente, já são mais os valores americanos que europeus) sem o corte radical com a Europa – o retorno à antiga comunidade de língua portuguesa: a lusofonia./ De facto, existe uma nova geração que, desejando um futuro diferente para Portugal, assume sem complexos neo-colonialistas a existência passada do Império, projectando-o no futuro da língua comum. O que tem esta nova geração para dar? Nada, a não ser a vontade e o entusiasmo de transformar o passado comum num futuro comum assente numa língua comum e num espírito comum”. Como escreve ainda Miguel Real, a finalizar o penúltimo ensaio do terceiro capítulo, sugestivamente intitulado “Morte e ressurreição de Portugal” : “Se, para Portugal, entre 1975 e 2010, a Europa esteve sempre primeiro, é hora de nos centrarmos nas infinitas possibilidades virtuais presentes na Lusofonia, tanto do ponto de vista económico como diplomático, como, sobretudo, do ponto de vista cultural e tecnológico, criando entre os seus países constituintes uma comunidade semelhante à Europeia.”. Semelhante?! O próprio Miguel Real, já no último ensaio, intitulado “O Futuro da Lusofonia”, se corrige – “A Lusofonia deve criar uma paisagem política nova” –, dado que, ainda nas palavras do autor: “Diferentemente, a Lusofonia corresponde a um genuíno programa civilizacional de fundo, unindo num vínculo único povos que a História fez encontrar e desencontrar. A Lusofonia não é uma ilusão política porque se fundamenta na história dos encontros/desencontros dos seus povos constituintes unidos actualmente por um falar comum.”. Eis, em suma, o Horizonte que Miguel Real nos abre como via de superação da “morte de Portugal” que ele próprio, como referimos, havia diagnosticado. Horizonte que, entre nós, tem sido defendido sobretudo pelo MIL: Movimento Internacional Lusófono , que tem dado voz a essa “nova geração”. 

(publicado no décimo número da NOVA ÁGUIA - excerto)