
12. Quando consideramos a grandeza e o imediatismo do problema da existência, desta existência ambígua, atormentada, fugidia, onírica – tão grande e tão imediata que assim que tomamos consciência dela, domina e obscurece todos os outros problemas e alvos; e quando, então, vemos como os homens, com algumas raras excepções, não têm uma consciência clara deste problema, na realidade parecem não ter qualquer consciência, preocupando-se antes com tudo que não este problema, e vivendo a pensar apenas no dia a dia e no espaço de tempo do seu próprio futuro individual, ou recusando-se expressamente a considerar este problema ou contentando-se com algum sistema de metafísica popular; quando consideramos este facto, chegamos à conclusão de que o homem pode ser chamado um ser pensante apenas num sentido muito lato desse termo e já não sente grande surpresa face à ausência de pensamento ou a qualquer idiotice, mas perceberá antes que enquanto o horizonte intelectual do homem normal é mais vasto que o do animal – cuja existência total é, como deve ser, um presente continuo, sem consciência do passado ou do futuro – não é tão imediatamente mais vasto do que em geral se supõe.
Schopenhauer
Publicado no MILhafre, por Antígona:
http://mil-hafre.blogspot.com/2009/12/acerca-do-problema-da-existencia.html