A presença de Portugal na União Europeia e a própria posição geográfica aparente do país na Europa poderia indicar que este era o seu lugar. Mas Portugal não é um país europeu. Pela sua geografia Portugal é em primeiro lugar um país Atlântico e só depois um país europeu. Os britânicos há muito que perceberam a diferença entre serem europeus ou atlânticos e a sua política externa e o seu próprio posicionamento na União reflete bem essas diferenças.
Se os países europeus que nos habituámos a admirar e em relação aos quais sentimos frequentemente sentimentos injustificados de inferioridade, vivem em função da pertença a um "continente", a um massa de terra que lhes serve de área de expansão e conquista, e lhes impôs uma propensão doentia para as guerras fratricidas, mas também lhes deu as raízes para a Revolução Agrícola do Século XVII e para o desenvolvimento industrial do Século XIX. A alma europeia está assim claramente condicionada pela omnipresença do elemento "terra" e as aventuras marítimas de franceses e espanhóis são exceção e estão delimitadas em períodos históricos bem definidos e sempre transitórios. A alma dos Estados forma-se na época da sua fundação, e isso mesmo aconteceu com Portugal que definiu aquilo que é hoje a partir das escolhas que os seus fundadores da Primeira Dinastia fizeram. Se os fundadores optaram pela expansão para sul, para território muçulmano, em desfavor da corrente que defendia a expansão até à matricial irmã Galiza isso haveria de nos levar séculos depois ao reconhecimento marítimo da costa ocidental africana e, mais tarde, à Índia e ao Brasil.
A adesão de Portugal à Comunidade Europeia na década de oitenta foi descrita por alguns como um "regresso à Europa" cumprido depois de séculos de aventuras marítimas mas Portugal não poderia jamais regressar onde nunca esteve! Por muito que isso conviesse aos políticos que colocaram Portugal num caminho que lhe é antinatural, Portugal apenas é europeu por casualidade geográfica e a sua alma está bem mais longe, algures no Oceano Atlântico.
Toda a História de Portugal usou sempre o Atlântico como vector. Foi pelo Atlântico que Portugal cumpriu o seu destino nos Descobrimentos - o único período da História em que Portugal foi realmente Portugal e não uma Sombra de si mesmo - e será no Atlântico que se cumprirá o verdadeiro destino de Portugal.
9 comentários:
Boa reflexão...
"O único período da história em que Portugal foi realmente Portugal" foi quando não existiu. Nascer tornou-o uma sombra de si mesmo.
Vai apanhar sol...
Já não há. O mar português está a encher e a afogar o universo.
Talvez nos Açores , o Portugal Ancestral da Atlântida , o Portugal do Espírito Santo ... para mim faz sentido , embora ESSE lugar , ESSE Portugal , por ser ilimitado , não tenha espaço geográfico ...
Um Portugal ilimitado seria Portugal?...
"Um Portugal ilimitado seria Portugal?..."
precisamente.
esse seria o verdadeiro Portugal e o real cumprimento da missão histórica de Portugal:
tornar todos os Estados num só, composto de nações irmãs e em paz entre si. A tal União Mundial que Agostinho defendia como passo derradeiro de uma União Lusófono, como antecâmara de uma União Latina, fonte primeira da dita União Mundial.
Clavis, uma coisa ou entidade ilimitada não pode existir, porque existir é ser algo distinto de outra coisa. Isto é ontologia elementar.
A falácia onto-lógica de um Portugal ilimitado, um Portugal-Deus-Ser-Absoluto é o fantasma que inquina o pensamento de muitos lusocêntricos entusiastas, entre os quais o nosso amigo Agostinho.
Isso não existe nem pode existir. E a União Lusófona, Latina, Mundial ou Inter-Galáctica, mesmo que viesse a existir, não era por isso que tornava o mundo melhor. O mundo é o que cada consciência individual percepciona como real. Enquanto isso não mudar, nada mudará fundamentalmente. Por isso esperar tudo da política é tempo perdido. A Grande Política é a metamorfose da percepção do real.
Bom, além de membro do MIL sou também membro do Movimento Internacional Eurásico, e considero Portugal mais eurásico do que atlantista... mas foi refrescante ler textos de fundo, quem me dera ter o tempo necessário para discutir, reflectir e evoluir.
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