"Certo historiador brasileiro, Gilberto Freire, muito mais perspícaz do que a média, descobriu um importante traço antropológico que aproxima de perto os brasileiros de seus vizinhos continentais. É o sentido da temporalidade. Brasileiros, mexicanos, colombianos, chilenos, argentinos, uruguaios e paraguaios participamos todos da vivência do que Freire chama de "tempo hispânico". Em contraposição ao tempo utilitário, cronometrado, urgente, dominando os países do hemisfério norte, notadamente os anglo-saxônicos, vivemos mergulhados na fruição do tempo hispânico, que é o tempo cheio das coisas que valem por si mesmas, e não por outra coisa, a utilidade, o lucro, o planejamento abstrato da vida. O chamado tempo hispânico é o tempo que se perde (se ganha) conversando com os amigos, ou consigo mesmo, no café, na confeitaria, no bar; o tempo da fruição pura, da amizade, da conversação, da elaboração errante do que vamos fazer, da captação do acaso, do imprevisto, de modo a enriquecer nossa vida com a nota do inesperado. O homem hispânico não vive como escravo do tempo, mas goza de soberania sobre ele, única forma de fazer da vida humana a minha vida, no dizer de Marías"
- Gilberto de Mello Kujawski, Idéia do Brasil. A arquitectura imperfeita, São Paulo, SENAC, 2001, p.81
Publico isto recordando a grande proximidade com a visão de Agostinho da Silva, a afinidade dos portugueses a este outro ritmo mais contemplativo da vida e como todos vivemos hoje compelidos a perder cada vez mais este sentido da temporalidade, por pressão de paradigmas mentais e económicos produtivistas importados, para não ganharmos com isso senão stress, ansiedade e frustração, perda em vida da própria vida. Preservar este domínio do tempo, este perdê-lo para ganhá-lo, e exportá-lo, civilizando a Europa da auto-mobilização acelerada e infinita (Sloterdijk), é outra das vocações da alternativa lusófona à globalização da constante fuga para a frente dos ritmos mentais e operativos.
Claro que, em termos últimos, diria: "Perde o tempo sem perda de tempo" (A Cada Instante Estamos a Tempo de Nunca Haver Nascido, Sintra, Zéfiro, 2008)
serpenteemplumada.blogspot.com
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286.
Donde vimos, para onde vamos...
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, Idanha-a-Nova, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
A "vida conversável" de Agostinho é aqui sem dúvida alguma diretamente referenciada...
Este tempo encontro-o também nos povos mediterrâneos, onde nós buscamos também a nossa matriz.
Encontramo-lo nos velhos que se aquecem ao Sol em Paros ou em Ikaria e naquelas vilas piscatórias do sul de Itália e nas que restam (não são muitas) do tsunami do turismo de massas na Espanha oriental dos cartagineses, edetani, bastetani, dos verdadeiros iberos, enfim.
Não esqueçamos que "ser", em português e castelhano, vem de "sedere", estar sentado, em repouso. Porventura uma ponte também para o Oriente. Vários autores já têm notado as afinidades da cultura ibérica com a oriental.
Enviar um comentário