A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Mestre Eckhart ou “o homem de quem Deus nada escondeu”

É com funda emoção que prefaciamos esta primeira publicação em Portugal de uma antologia de tratados e sermões de Mestre Eckhart (1260 ? – 1328), o teólogo, filósofo e pregador dominicano cuja profundidade e subtileza espiritual e “mística” o tornam cada vez mais uma referência fundamental para todos os que, independentemente da sua cultura ou religião, procuram ir ao fundo das possibilidades da vida, da consciência e da existência, sem se contentarem com a mera especulação intelectual sobre o seu sentido. Com efeito, em Eckhart dá-se a rara e feliz conciliação de uma sólida erudição universitária com a radicalidade da experiência espiritual que rompe e inova as categorias do pensamento da sua época e da sua tradição, fazendo dele um “Leben Meister” (“Mestre de vida” e não só de doutrina) que influiu decisivamente em gerações de discípulos e tem inspirado um significativo e crescente número de pensadores, psicólogos, escritores, poetas, pintores e músicos contemporâneos.
Consagrado pela posteridade como “o homem de quem Deus nada escondeu”, Eckhart assume de facto a sua visão e discurso como “uma verdade não encoberta, que veio directamente do coração de Deus”. “Voz” vinda “da eternidade”, mas não compreendida senão nos limites do tempo, como o disse Tauler, seu discípulo, acabou por ser objecto de um processo e de uma Bula papal que condenou vinte e oito afirmações suas como heréticas ou “mal sonantes, ousadas e suspeitas de heresia”. Todavia, se Eckhart ousa transgredir o plano teológico-filosófico e doutrinal para falar em nome de uma experiência imediata de Deus, esta fuga à norma da sua própria tradição institucionalizada pode noutro sentido ser vista como fidelidade a uma experiência cristã mais profunda, em que a resposta à questão tradicional – Cur Deus homo; Porque se fez Deus homem ? – é a de que Deus se faz homem para que cada homem “seja engendrado como o próprio Deus”, sendo “a abissalidade [Abgründigkeit] do ser divino e da natureza divina” inteiramente gerada “no seu Filho unigénito” para que “nós próprios sejamos o mesmo Filho unigénito”. Cristo, o Filho único de Deus, não é assim somente considerado uma pessoa individual e distinta, designando sobretudo a suprema possibilidade, histórica e trans-histórica, comum a todo o ser humano, cumprida no acesso de cada um ao estado de unção espiritual que esse nome designa.
Se a pregação eckhartiana tem dois temas capitais - o nascimento de Deus na alma e o trespasse do espírito na Divindade - , é neste último que se torna mais sensível a sua inovação e radicalidade. Bernard McGinn usa a expressão “mística do fundo” para designar a nova forma de experiência espiritual iniciada ou redescoberta por Eckhart, seus contemporâneos e seguidores, sintetizada na afirmação: “o fundo de Deus e o fundo da alma são um fundo”. Grunt (forma antiga do moderno termo germânico Grund) abre assim um “campo de palavra místico”, constituindo uma “metáfora explosiva” (Blumenberg), enquanto “expressa de modo concreto o que não pode ser capturado em conceitos” e “trespassa anteriores categorias da linguagem mística para criar novos modos de apresentar um encontro directo com Deus”. Dos vários sentidos que Grunt assume no alemão medieval, destaca-se em Eckhart o do “mais íntimo” e “oculto” de um ser, “a sua essência”, referindo-se quer ao “mais íntimo da alma”, quer às “profundezas ocultas de Deus”, para designar a radical unicidade desse seu fundo único. Univocamente comum a Deus e à alma, o fundo transcende-os enquanto “Deus” e “alma” surgem como algo distinto em si mesmo e na sua relação mútua. Com efeito, metáfora do infinito e do absoluto livre de todo o limite e referência, o fundo é “sem fundo” e “um único um” que transcende o Deus pensado pelo homem “enquanto causa eficiente do universo” e diferenciado nas pessoas trinitárias: como diz, a origem do ser divino e de todas as coisas reside nesse “fundo simples” e “imóvel” ou “deserto silencioso onde jamais a distinção lançou um olhar, nem Pai, nem Filho, nem Espírito Santo”. Sendo a “indistinção” e a ausência de características a “característica distintiva de Deus” como fundo, este é “nu, livre, vazio, puro”. Daí a relação da metáfora do fundo com as do “deserto”, do “mar” e do “abismo” [Abgrund], imagens de espaços vastos, uniformes e desobstruídos, sem limites nem entidades. Referindo também o incondicionado que há na alma, esse “algo incriado” que nela reside, o fundo é a mais poderosa metáfora que Eckhart usa – a par de outras, como a “pequena centelha” e a “cidadela” – para indicar a presença em cada ser do absoluto e infinito, isso que transcende e identifica o humano e o divino: “Aqui o fundo de Deus é o meu fundo e o meu fundo o fundo de Deus”.

[excerto do prefácio de Mestre Eckhart, O Abismo Eterno, antologia de tratados e sermões escolhidos e prefaciados por Jorge Telles de Menezes e Paulo Borges, tradução do alemão de Jorge Telles de Menezes, Lisboa, Paulinas, 2009 (no prelo)]

2 comentários:

Ariana Lusitana disse...

A Joana D'Arc vai gostar de ler. Domini cani, ão ão.

coalvorecer disse...

Gostei de: “ independentemente da sua cultura ou religião, procuram ir ao fundo das possibilidades da vida, da consciência e da existência, sem se contentarem com a mera especulação intelectual sobre o seu sentido.” Para mim faz todo o sentido. Assim, bem vinda a primeira publicação em Portugal de uma antologia tão “suculenta”.