A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 15 de março de 2008

Vidas Portuguesas: Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925)


“Quanto ao Português, chamo desde já a sua atenção para isto: – que os legítimos textos arcaicos não são uma floresta oscura, selvaggia ed aspra e forte, uma série de vocábulos raros e complicados, entrelaçados em construções bárbaras, como aquelas Relíquias apócrifas e artificiosíssimas que durante séculos passaram por obras dignas de fé, de um Egas Moniz Coelho e Gonçalo Hermiguez. Numa balada de Sancho I, composta antes de 1200, uma das mais antigas poesias trovadorescas de Portugal, de deliciosa cadência rítmica, há apenas umas vinte e tantas palavras diversas, todas elas singelas quanto à forma e quanto à essência e – todas – já eram então o que são hoje. É um fenómeno notabilíssimo, talvez único, não só quanto ao português, mas também em todos os idiomas neo-latinos”.
Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Lições de Filologia Portuguesa

Apontamento Biográfico
Carolina Wilhelme Michaëlis de Vasconcelos nasceu, em Berlim, no dia 15 de Março de 1851. Filha de Gustavo Michaëlis (1813-1895) e de Luise Lobeck (1809-1863), cedo se interessou pelo estudo das línguas. Deste modo, frequentou, entre os seus sete e dezasseis anos, a Escola Superior Municipal Feminina de Berlim e, posteriormente, em casa, dedicou-se à aprendizagem da literatura greco-romana, do árabe e das línguas eslavas, semitas e românicas (entre elas, o português). Aos dezasseis anos, Carolina era já uma filóloga reconhecida, chegando até a publicar artigos em revistas alemãs da especialidade. A sua predisposição para as línguas, levou-a a tornar-se tradutora também muito cedo.
Por causa da “Questão do Fausto”, Carolina Michaëlis aproxima-se epistolarmente de Joaquim de Vasconcelos (1849-1936) – este, ao lado de Antero de Quental (1842-1891), de Adolfo Coelho (1847-1919), entre outros, haviam contestado a tradução que António Castilho (1800-1875) fizera do Fausto. Mais tarde, chegam a encontrar-se em Berlim e casam, na mesma cidade, em Março de 1876, no entanto, fixam moradia no Porto. Um ano depois, nascerá o filho único do casal: Carlos Joaquim Michaëlis de Vasconcelos (1877-?).
Carolina Michaëlis foi convidada para leccionar na Universidade de Coimbra e, apesar de ter sido a primeira mulher a dar aulas numa universidade portuguesa, não foi, no entanto, catedrática. Foi doutora honoris causa pelas Universidades de Friburgo (1893), de Coimbra (1916) e de Hamburgo (1923). Em 1901, pela mão do Rei D. Carlos (1863-1908), recebeu a insígnia de oficial da Ordem de Santiago da Espada. Em 1912, tornou-se sócia da Academia das Ciências de Lisboa.
Morreu, na cidade do Porto, no dia 22 de Outubro de 1925.

Apontamento Crítico
Carolina Michaëlis de Vasconcelos não foi apenas uma filóloga brilhante. Foi também uma amante dedicada ao estudo da cultura e da literatura portuguesa. A este propósito, debruçou-se durante muito anos sobre o Cancioneiro da Ajuda; estudou afincadamente Gil Vicente (1465-1536), Luís de Camões (1524?-1580), Bernardim Ribeiro (1582?-1552?), Sá de Miranda (1481-1558), entre tantos outros; desvelou idiossincrasias da cultura lusitana que, à época, ainda eram praticamente insondáveis. Realcemos, a título de exemplo, o tratamento que confere à temática da Saudade.
Em A Saudade Portuguesa, D. Carolina não se limitou a discorrer filologicamente acerca da terminologia da palavra Saudade (tão ancestralmente explorada pelos portugueses), igualmente, a autora luso-alemã abordou como é que tal expressão e tal sentimento se constituíram enquanto paradigma ou arquétipo da cultura portuguesa, talvez mesmo do ser mais profundo do povo lusíada. Nessa mesma obra, lança mão do Cancioneiro Galaico-Português para chegar à conclusão de que a Saudade é uma temática recorrente, desde há séculos, nas terras da Galiza e de Portugal e demonstra, afinal, o que, a seu tempo, mostraram D. Duarte (1391-1438) e D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666): por muitas semelhanças que encontre com outras palavras de outras línguas, sobretudo as europeias, a palavra Saudade é exclusiva (porque intraduzível) da língua portuguesa (quanto muito encontrará afinidades com a expressão galega soidade). Mas a autora não se limitará a defender argumentos como este. Como “fundadora da história científica da nossa literatura” (assim escrevera, acerca da linguísta, António Sérgio (1883-1969), no prefácio da primeira edição do volume I dos seus Ensaios), Carolina Michaëlis de Vasconcelos é extremamente rigorosa no tratamento que dá à Saudade, quer de um ponto de vista filológico (analisando a palavra nas várias línguas europeias), quer de um ponto de vista cultural. Neste último aspecto, é de realçar a importância que concede à história dramática de Pedro (1320-1367) e Inês (1320/1325?-1355) como paradigma da Saudade enquanto vivência de um sentimento limite e primordial. Para Carolina Michaëlis, entender a Saudade, na sua vertente sentimental, consiste em assimilar a experiência radicalmente saudosa e amorosa vivida por D. Pedro e por D. Inês de Castro.
De resto, a outra dimensão de carácter mais terminológico e científico, será apenas um acréscimo (ainda que, na nossa óptica, essencial para o estudo da questão nacional) àquilo que, de fundamental, a Saudade é enquanto sentimento. E, o mais curioso é que, enquanto alemã, D. Carolina soube percepcionar irrepreensivelmente tal dinâmica. Além do mais, são inequívocos os avanços na área dos estudos linguístico-culturais que esta autora permitiu ao nosso país: introduziu, no Portugal finissecular, uma dose de cientismo até hoje relembrada e acarinhada.

Bibliografia Indicativa
Poesias de Sá de Miranda, 1885
História da Literatura Portuguesa, 1897
A Infanta D. Maria de Portugal e as suas Damas (1521-1577), 1902
Cancioneiro da Ajuda (2 volumes), 1904
Dicionário Etimológico das Línguas Hispânicas
Estudos sobre o Romanceiro Peninsular: Romances Velhos em Portugal
As Cem Melhores Poesias Líricas da Língua Portuguesa, 1914
A Saudade Portuguesa, 1914
Notas Vicentinas: Preliminares de uma Edição Crítica das Obras de Gil Vicente, 1920-1922
Autos Portugueses de Gil Vicente y dela Escuela Vicentina, 1922

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