A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Vidas Portuguesas: Hernâni Cidade (1887-1975)

“Parece de toda a evidência que o que chamamos cultura europeia é uma realidade substancialmente homogénea em todo o espaço e tempo através dos quais ela se tem desdobrado. Mas não é menos evidente que, assim, como, no espaço, diversamente se matiza e é inconfundível a de tipo francês com a de tipo hispânico, a de carácter germânico, com a de carácter anglo-saxónico, assim, no tempo, se diferencia muito bem a cultura clássica da romântica, que por nosso turno temos vindo a modificar, encaminhando-a para o que se pode chamar a cultura atómica. Há mais afinidade entre, por exemplo, Virgílio e Camões do que entre Camões e Sá Carneiro, apesar da religião e da língua que parece deviam separar os que aparentamos e aparentar os que separamos. Mas que é que aparenta Camões a Virgílio, ou, segundo as categorias estabelecidas, que é que faz de Camões um poeta clássico, tal como Virgílio, cujo poema, aliás, em tantos aspectos é modelo d'Os Lusíadas? Têm entre si de comum o que podemos chamar uma mundividência, que, em seus traços fundamentais, se tem mantido idêntica a si própria através de milénios. ¶ Ambos crêem que a realidade, em sua forma exterior, como em sua constituição intrínseca, é em absoluto independente do pensamento que sobre ela se exerce, e dos sentidos que a apreendem. O homem é, em face dela, uma passiva placa fotográfica, em que ela se projecta, sem deformação essencial. É-lhes igualmente comum o conceito da ordem em que a sentem organizada, e comum a hierarquia dos valores por que se define essa ordem. ¶ Resulta daqui, para o artista, sentir perante si, na realidade, certa imobilidade de coisa definitiva, a que procura conformar a expressão estética com que tenta apreender-lhe os rasgos que o interessam. Consequentemente, tem a expressão artística, em sua essência, cânones invariáveis e definitivos, como as leis do mundo que lhe é dado - o mundo da natureza e o mundo do homem, o Universo e a Vida. Assim, para ambos, como para Homero que os precede, como para Bocage, que vem muito depois, é comum o conceito aristotélico da beleza - esplendor da verdade”.
Hernâni Cidade, O Homem Cartesiano e o Homem Kantiano

Apontamento Biográfico
Hernâni Cidade nasceu no Redondo no dia 7 de Fevereiro de 1887. Filho de um modesto carpinteiro de carros, Hernâni Cidade não seguiu a profissão do pai por falta de jeito. Ingressou, assim, no Seminário de Évora. Quando terminou a primeira etapa do Seminário, foi convidado a frequentar a Universidade Gregoriana de Roma, no entanto, não aceitou e enveredou pelo Curso Superior de Letras. Em 1914, torna-se professor efectivo, em Leiria, leccionando Língua e Literatura Portuguesa, no entanto, passara também por Coimbra, Porto e Lisboa como professor liceal.
No ano de 1916 é mobilizado para participar na 1ª Guerra Mundial. Os seus actos de coragem valeram-lhe a Cruz de Guerra. Nesse período melhorou também os seus estudos de alemão.
Em 1919, torna-se professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Nesta instituição é professor de Sant’Anna Dionísio (1902-1991), José Marinho (1904-1975), Álvaro Ribeiro (1905-1981), Agostinho da Silva (1906-1994), entre outros. Anos mais tarde, tornar-se-á professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Participou do movimento da Renascença Portuguesa, colaborou na Águia e na Seara Nova. Dirigiu, ao lado de Joaquim de Carvalho (1892-1958) e de Mário de Azevedo Gomes (1885-1965), entre 1934-1935, o Diário Liberal e, ao lado de Reynaldo dos Santos (1880-1970) e de Bernardo Marques (1899-1962), entre 1959-1970, a Colóquio - Revista de Artes e Letras.
Teve alguns problemas de natureza política com o Governo de Oliveira Salazar mas, depois de 1935, afasta-se totalmente das questões dessa índole e dedica-se ao ensino universitário a tempo inteiro. Em 1956 é condecorado, pela França, com a Legião de Honra e, já no fim da sua vida, é-lhe atribuída a Cruz da Ordem de Santiago.
Morre, em Évora, no dia 2 de Janeiro de 1975.

Apontamento Crítico
Para além de ter sido um autor que se dedicou essencialmente ao estudo da literatura e da cultura portuguesa e francesa, Hernâni Cidade foi, acima de tudo, um professor. Dizia até que os seus livros eram fruto das aulas que dava. Nesta perspectiva, a sua interpretação dos grandes autores portugueses, como Camões (1525-1580), Vieira (1608-1697), Bocage (1765-1805) ou Antero (1842-1891), por exemplo, não se restringe somente a uma análise poético-literária, mas, sobretudo, a uma análise que contempla as dimensões da história, da sociologia e da cultura. O fenómeno literário é, essencialmente, um fenómeno cultural que está em diálogo com as outras formas de arte e com a história das ideias. Ora, a obra de Hernâni Cidade é inovadora precisamente neste ponto. Poder-se-á até afirmar que a proposta que o autor alentejano expõe nos seus escritos é de natureza intertextual e contextualizadora. Se tomarmos como exemplo o seu livro Padre António Vieira, Estudo Biográfico e Crítico e o prefácio que faz à obra A Defesa do P.e António Vieira perante a Inquisição, chegamos à conclusão de que a leitura de Cidade acerca da vida e da obra do jesuíta Vieira é muito ampla e congregadora. Através da sua hermenêutica é-nos permitido aceder a um conjunto de pressupostos extra-literários que, no fundo, promovem a compreensão do Padre António Vieira como um todo complexo e harmonioso. Estamos a referir-nos, naturalmente, aos aspectos culturais, históricos e sociais a que Hernâni Cidade era tão sensível e que, em certa medida, inovaram a análise da literatura portuguesa nas universidades e nos liceus. Nesse sentido, ao mesmo tempo que são verdadeiras lições de cultura, promovem os autores e as suas obras numa dimensão mais real, própria e inteira. Mas o “excelente mestre Cidade”, como lhe chamava Agostinho da Silva, imprimiu a mesma fórmula em todas as suas reflexões. Se relembrarmos a biografia que escreveu sobre Luís de Camões, verificamos que a intertextualidade existente na obra é tão grande que permite que uma simples biografia se torne num texto profundo e referencial sobre o autor de Os Lusíadas: “Ao fim de 16 anos, aproximadamente, de uma vida que ele pôde chamar sem grande exagero a mais desgraçada que jamais se viu, regressa a Portugal. Regressa sem recursos, nem para o pagamento da viagem, nem para, na ilha de Moçambique, poder esperar pela nau em que embarcasse. Diz Diogo de Couto que ali o viu vivendo de amigos, compondo o seu Parnaso, livro que qualifica de muita erudição, doutrina e filosofia, e lhe roubaram, e dando a última demão às suas Lusíadas. ¶ Parte para Portugal em 1569. Como única riqueza, trazia Os Lusíadas, que ele mesmo refere (canto X, 128) ter salvo do naufrágio em que perdeu uma moça oriental, a que vinha muito ligado e a que dedica o soneto Alma minha gentil, que te partiste, a crer no texto do manuscrito da Biblioteca Municipal do Porto, que se julga ser a VIII Década perdida por Diogo de Couto. Também parecem inspirados pela mesma saudade os sonetos Ah! minha Dinamene! assim deixaste, O céu, a terra, o vento sossegado...., e Quando de minhas mágoas a comprida. ¶ A vida em Portugal não lhe correu mais propícia. Um admirador do seu génio, todavia - D. Manuel de Portugal -, é exaltado pelo Poeta como o Mecenas a quem Os Lusíadas devem a sua publicação. Ele lhe facilitaria, porventura, a tença de 15.000 réis anuais com que, a título precário e depois de somar os serviços por ele prestados no Oriente e os que viria a prestar no futuro à suficiência do poema, D. Sebastião entendeu dever pagar o tesouro do Luso, que assim qualificou Cervantes Os Lusíadas. ¶ Talvez que a soma fosse suficiente, se a nossa burocracia, por imprevisto milagre das Musas, fosse, para o Poeta, de prontidão e diligência que nunca esteve nos seus hábitos, e se Camões, por ainda mais imprevista surpresa da sua natureza de poeta, em vez de continuar tecendo belos sonhos líricos, passasse a ocupar-se de contas de economia doméstica”.

Bibliografia Indicativa
Ensaio sobre a Crise Mental do Século XVIII (1929)
A Obra Poética do Dr. José Anastácio da Cunha (1930)
Lições de Cultura e Literatura Portuguesas (1933, 1959; 2 vols.)
Luís de Camões. I - O Lírico (1936)
Bocage (1936)
Poesias da Marquesa de Alorna (pref. e notas; 1941)
Padre António Vieira, Estudo Biográfico e Crítico, seguido de 3 vols. de Sermões (1941)
A Literatura Portuguesa e a Expansão Ultramarina (1943)
O Conceito de Poesia como Expressão de Cultura - Sua Evolução através da Literatura Portuguesa e Brasileira (1945)
Luís de Camões. II - O Épico (1950)
A Defesa do P.e António Vieira perante a Inquisição (pref. e notas; 2 vols.; 1952)
Luís de Camões. III - Os Autos e o Teatro do seu Tempo. As Cartas e o seu Conteúdo Biográfico (1956)
Portugal Histórico-Cultural (1957)
Lições de Cultura Luso-Brasileira. Épocas e Estilos, na Literatura e nas Artes Plásticas (1960)
Antero de Quental. A Obra e o Homem (s/d)
Luís de Camões. A Obra e o Homem (1957)
Padre António Vieira. A Obra e o Homem (1964)
Bocage. A Obra e o Homem (1965)

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