Tem-se falado muito sobre
Olivença neste final de Verão de 2024 – após as mais recentes declarações do
nosso actual Ministro da Defesa, em que reafirmou a legitimidade (juridicamente
indiscutível) de Portugal reclamar o território administrado por Espanha já há
mais dois séculos – mas, a nosso ver, bem mais pertinente é falarmos sobre a
Galiza.
Não, esclareça-se desde já, para
reclamarmos igualmente esse território (assaz mais extenso) – apenas porque o
interesse por Portugal (e, por extensão, por todo o espaço lusófono) é bem
maior na Galiza do que em Olivença. O que se compreende: Olivença é uma pequena
cidade que, década após década, se integrou perfeitamente na Estremadura
espanhola; a Galiza é uma região histórica com uma consciência muito maior da
sua diferença no Reino de Espanha, equiparável às regiões da Catalunha e do
País Basco.
Num e noutro caso, o que mais
importa, a nosso ver, é que Portugal olhe para o outro lado da fronteira, a
Norte e a Este, reconheça o que aí se passa e actue em consequência, sem
qualquer ingerência política. O futuro de Olivença passa essencialmente pelos
oliventinos e o futuro da Galiza passa, de modo não menos essencial, pelos
galegos. Essa é, aqui, a premissa fundamental.
Se, da parte dos oliventinos,
houvesse algum movimento político-social relevante de reintegração em Portugal,
então sim, Portugal poderia e deveria agir em consequência. Como manifestamente
não o tem havido, de forma relevante, resta-nos, pois, preservar essa memória histórica
comum – como, de resto, tem sido feito, sobretudo no plano cultural. Já no caso
da Galiza, bem mais expressivos – em quantidade e em qualidade – têm sido esses
sinais de interesse. Não apenas, reiteramo-lo, por Portugal, mas, por extensão,
por todo o espaço lusófono.
Recorde-se, a esse respeito, o
reiterado empenho de algumas Associações galegas em terem sido reconhecidas
como Observadoras Consultivas da própria CPLP: Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa – o que passou por insistentes contactos com as Embaixadas de vários
países da nossa Comunidade, não apenas com Portugal. Refiram-se ainda, a esse
respeito, os muitos eventos que têm feito essa ponte – nomeadamente, neste
início de Outono, o II Encontro de Filosofia e Cultura Luso-Galaica, promovido
por diversas Universidades e Associações da Sociedade Civil dos dois lados
fronteira (a saber: Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, Instituto de
Filosofia da Universidade do Porto, Universidade de Santiago de Compostela,
Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Centro Português de Vigo,
Casa Impulsionadora da Lusofonia na Galiza, PASC: Plataforma de Associações da
Sociedade Civil/ Casa da Cidadania e MIL: Movimento Internacional Lusófono).
Renato Epifânio
Presidente do MIL:
Movimento Internacional Lusófono e da PASC: Plataforma de Associações da
Sociedade Civil/ Casa da Cidadania