segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Na NOVA ÁGUIA nº 33: sobre Casais Monteiro...

 

CASAIS MONTEIRO: RECEPÇÃO E OLVIDO

Carlos Leone

O facto de muito do que Casais Monteiro escreveu continuar pertinente e interpelante não suscita por si só uma recepção, uma vez que a recepção diz-se de muitos modos e os que vemos se lhe encontram vedados: no cânone não tem lugar, por contrariar pressupostos do establishment literário educado (mas não fiel) a Lourenço; na comunicação social, mesmo especializada, é arqueológico, com referências hoje remotas e uma postura moral pessoalizada em demasia para gerar adesões; na cultura popular (imagética, tv/net) é desviante e improcessável – mais depressa se faz teatro ou bailado de Europa do que uma série na netflix ou um filme de cinema; institucionalmente, não tem lobby que lhe valha (I. Camões, etc.), por ausência de familiares e/ou discípulos.

Em síntese: suspeito que todos os da sua estirpe, mesmo Lourenço, vão encaminhar-se para este silêncio dos letrados (adaptando Alberto Pimenta), em maior ou menos grau consoante a sua maior ou menor proximidade ao poder político, círculos mediáticos e establishment cultural (não apenas universitário). Casais é um entre muitos já; pense-se em António Sérgio, Jaime Cortesão, etc. (veja-se o catálogo da INCM - criam-se Obras Completas que depois ficam abandonadas…).

(excerto)