CASAIS
MONTEIRO: RECEPÇÃO E OLVIDO
Carlos Leone
O facto de muito do que Casais Monteiro escreveu
continuar pertinente e interpelante não suscita por si só uma recepção, uma vez
que a recepção diz-se de muitos modos e os que vemos se lhe encontram vedados:
no cânone não tem lugar, por contrariar pressupostos do establishment
literário educado (mas não fiel) a Lourenço; na comunicação social, mesmo
especializada, é arqueológico, com referências hoje remotas e uma postura moral
pessoalizada em demasia para gerar adesões; na cultura popular (imagética,
tv/net) é desviante e improcessável – mais depressa se faz teatro ou bailado de
Europa do que uma série na netflix
ou um filme de cinema; institucionalmente, não tem lobby que lhe valha (I. Camões, etc.), por ausência de familiares
e/ou discípulos.
Em síntese: suspeito que todos os da sua estirpe,
mesmo Lourenço, vão encaminhar-se para este silêncio dos letrados (adaptando
Alberto Pimenta), em maior ou menos grau consoante a sua maior ou menor
proximidade ao poder político, círculos mediáticos e establishment
cultural (não apenas universitário). Casais é um entre muitos já; pense-se em
António Sérgio, Jaime Cortesão, etc. (veja-se o catálogo da INCM - criam-se Obras Completas que depois ficam
abandonadas…).