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Castigo Langa e a educação patriótica (ou o princípio de Platão) (2) (fim)
De acordo com uma história dita fenícia citada por Platão, haveria que ensinar nas escolas a «nobre mentira» (sic) de que os seres humanos vieram ao mundo todos irmãos mas feitos de metais diferentes, a saber: o ouro para os que deviam comandar, uma mistura de ouro e de prata para os auxiliares e uma mistura de ferro e de bronze para os trabalhadores. Como a vida se poderia encarregar de misturar os metais, haveria, então, que vigiar todo o processo de montante a juzante e pôr rapidamente cobro a qualquer tipo de alteração da ordem social. [*].
Então, creio que desde sempre, em todo o mundo, o problema dos governantes consiste em saber como aplicar esse princípio, o princípio de Platão. Com algum humor, creio ser possível dizer que o princípio de Platão resume tudo o que podemos dizer do patriotismo, dessa maneira de queremos amar uma pátria espartilhados nos três metais, prisioneiros das nossas diferenças sociais.Mas o problema pode complicar-se quando, falhos de emoção e de apego na base, desejamos impor à força a "nobre mentira". Por outras palavras, quando entendemos que uma pátria se ama melhor quando impomos a educação patriótica. Da minha experiência de professor no ensino secundário, sempre guardei como convicção que não é com a educação patriótica imposta de cima com um processo de avaliação idêntico ao que adoptamos para a Biologia ou para o Português que conseguimos patriotas ou patriotas mais sólidos. Nesse plebiscito de todos os dias que é uma pátria, para usar a expressão de Renan, toda a imposição gera, regra geral, por hipótese, o oposto do que se deseja. Uma pátria não se ama por decreto. E muito menos quando os trabalhadores de Platão descobrem, finalmente, que a mentira nem nobre é.
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[*]Platon, La République. Paris: GF-Flammarion, 1966, pp. 166-167.
Olha, Ana, eu não vou voltar a essa questão...
ResponderEliminarPara mim, a Pátria não é "uma mentira". Ponto final.
Para mim e para cerca de dois terços das pessoas que aderiram ao MIL (ver resultados do Inquérito), é um "valor da máxima importância".
Mas estás no teu pleno direito em achares o contrário...
O objectivo deste post nao era chamar a atencao para a ideia de Patria mas para a questao da metafora dos "tres metais" de Platao.
ResponderEliminarAna
ResponderEliminarO mito é apenas isso, um mito (em todo o caso, registo que este veio do Oriente...). Foi depois desenvolvido filosoficamente das mais diversas formas. Pelo próprio Platão, desde logo, que, registo, era contra toda a discriminação baseada na hereditariedade. E mesmo no sexo...
Embora aos 3 metais de Platão se deva também acrescentar outras origens, e isto nos reporta aos 3 rios cósmicos, dos Hindus, onde por coincidência Satwas Rajas e Tamas, as 3 qualidades da matéria primordial mantêm relação com esses mesmos metais; e no mundo, nas pessoas onde predomine não o metal mas uma destas qualidades e em certo faixa justamente a misturas de Satwa (Ouro) e Rajas a (Prata) dependendo da qualidade da matéria, cumprem esses papéis realmente anáolog onde os Párias pertenceriam ao ferro Tamas...
ResponderEliminarE se viva em termos de tempo, no momento, o fim da idade do ferro... (Tamas) proletáriado e a ruína do bem maior do povo, a sua Pátria...
Platão não fez senão, talvez pela prudência de viver no mundo anti-tradicional da Grécia clássica, apresentar como mito e "nobre mentira" o que é a ideologia trifuncional dos indo-europeus (cf. Georges Dumézil), levada por estes a todo o mundo que invadiram, desde o extremo-Ocidente à Índia e que só foi aparentemente desmantelada pela Revolução Francesa, pois continuam a existir os intelectuais e contemplativos, os homens de acção/militares e os produtores... A validade social disto é muito frágil, embora não o seja no plano espiritual e psicológico, como o demonstra a verificabilidade da doutrina indiana das 3 gunas, também presente no gnosticismo cristão... Mas isto não é nenhuma posição sobre esta questão melindrosa: para isso falta-me tempo...
ResponderEliminarPela minha parte, só quero acrescentar que, para mim, o homem verdadeiramente superior é aquele que consegue realizar-se, simultaneamente, nessa tripla dimensão... Para mim, o mero contemplativo é (quase) tão imperfeito quanto o mero produtor...
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